segunda-feira, 23 de abril de 2012

Duas perguntas e duas respostas


Durante uma palestra no meu curso técnico (algumas décadas no passado) fomos agraciados com a presença de um gestor financeiro do Banrisul e dois diretores da IBM do Brasil. O que eles tinham em comum num curso técnico de Processamento de Dados? Cada um respondeu a uma pergunta que mudou o rumo das minhas ações no futuro. Ouvir o que eles tinham a dizer foi como abrir portas secretas para nosso futuro, mas nem todos entenderam assim e, por isso, vários dos colegas que fizeram o curso técnico comigo simplesmente não atuam na carreira atualmente. Nos dias de hoje ainda lembro das respostas, pois elas ainda fazem sentido.

Que perguntas foram essas? Bom, “Os fins justificam os meios?” foi a questão para o representante do Banrisul, um homem de aproximadamente 40 anos, bem vestido em seu traje de tons cinza e de estatura mediana. Ele pôs as mãos no bolso e com sua calma, porém voz grave, respondeu:
- Não sei exatamente qual o foco da pergunta, mas acho que pelo teu tom de voz ela tem a ver com o aspecto pessoal mais do que com o profissional. Então vou responder com o foco profissional primeiro. Sim, justificavam, mas apenas se tu não te preocupares em dormir bem à noite. Essa expressão é comumente utilizada quando se faz algo ruim, mas com boas intenções ou com objetivos maiores do que beneficiar a si mesmo. O que posso dizer é que quando tu sobes alguém deve ficar embaixo para te sustentar, como uma escada. Que garantias tu tens de que quem está abaixo não usará dos mesmos artifícios ou justificativas para assumir o teu lugar ou tirar o que tens? Antes de fazer qualquer ação é melhor se certificar de que tens o respeito e o apoio dos teus colegas de equipe e assim não terás que olhar pra baixo, pois terás todos ao teu lado.
No aspecto pessoal, bom, pense da seguinte forma, cada pessoa tem atitudes e valores distintos. Quando inserido numa sociedade tu tens de assumir os valores dessa sociedade. Se não concordares então deve procurar outra que tenha os mesmos valores nos quais tu acreditas. Não te prenda a um lugar que tu sente que não é o teu e nem a pessoas que não agregam nada de positivo na tua vida.

Minha surpresa não parou por aí, porque a pergunta aos dois representantes da IBM do Brasil foi também sobre pessoas. Um colega estava muito chateado com o local onde estava estagiando e perguntou “Quando um funcionário faz um trabalho bem feito ele deve receber elogios ou premiações?”. Dois senhores de mais idade, diria uns 50 anos cada um, com trajes pretos e aspecto fúnebre, mas firmes nas palavras, se olharam e o que aparentava ser o de hierarquia superior levantou-se e sem pensar muito disse: Por que deveria? Ele é pago pra isso...

O auditório inteiro começou a se revirar, olhavam uns para os outros sem saber exatamente o que comentar ou que concordavam ou não. Alguns ficaram indignados ao ponto de levantar para sair e foi quando o representante sorriu e continuou:
- Quando fazemos um bom serviço em casa ou na escola é comum ganharmos um elogio, mas não ganhamos um salário para realizar aquela tarefa. Ou é uma necessidade ou algo que sentimos que precisávamos fazer e fazemos. Na carreira que escolher terá de cumprir metas e atingi-las não será algo mágico, mas o básico. Ninguém pode receber premiações ou elogios por fazer o básico. Imagine um vendedor, ele tem metas de vendas que precisam ser alcançadas. Ninguém sentou numa cadeira e pensou “Esse mês a meta será X, daí no mês que vem será Y”. Não é assim que funciona. Existe um planejamento, uma projeção de crescimento, um custo operacional e a necessidade de entrada de capital para que possamos seguir contratando e evoluindo. O vendedor pode não saber disso, mas a tal meta é a participação dele nesse planejamento. Se ele não cumprir a meta então teremos de reavaliar nossos planos. Se todos os vendedores não atingirem as suas metas então não há garantias de que a empresa possa investir ou mesmo continuar as suas atividades. Isso é uma visão corporativa, mas vale para a vida de vocês. Se os alunos decidirem que não vão mais pagar a escola, então a escola fecha. Se fechar, os funcionários terão de procurar outro emprego e os professores deverão lecionar em outro local. Até que eles possam achar outro emprego, quem vai pagar as dívidas deles? E se não conseguirem outro emprego? Isso é uma reação em cadeia, as lojas para as quais eles devem precisam receber, senão os funcionários delas não recebem... e essa cadeia vai longe. Eu não elogio funcionários por fazerem seu trabalho, não dou prêmios e nem mesmo crio expectativas. Digamos que o vendedor atinja 200% da sua meta, o que eu faço? Posso sim elogiar ele, mas não premiar, porque ele já recebe um salário por isso e mais as comissões. O mérito é dele, mas ele já recebe por isso. Posso ainda pensar que se ele atingiu o dobro da meta é porque ela foi subdimensionada. Nesse caso, se confirmado, no próximo período a meta dele será o que ele atingiu recentemente, porque ele tem capacidade pra isso. Se forem contratados para executar uma atividade, façam o que sabem fazer de melhor para cumpri-la, mas não esperem elogios por isso. Crianças sim precisam ser elogiadas para incentivar o seu desenvolvimento, mas depois de crescerem, devem saber que elogios engrandecem a alma, mas não sustentam a família.

Palavras duras vindas de alguém que precisava ser duro com as pessoas, pois não conhecia os seus nomes, seus rostos ou mesmo suas histórias. Elas estavam estampadas em gráficos estatísticos. Não posso culpa-lo por isso, somos da forma como fomos criados ou da forma como aprendemos a trabalhar. O que me faz lembrar que a vida corporativa é dura, mas não precisa que nossos corações sejam feitos de pedra. 

Sábias palavras do meu pai “Meus problemas do serviço ficam no serviço. Meus problemas de casa ficam em casa.”. Lido com pessoas tanto quando lido com máquinas, mas assim como brinco ao dizer que máquinas têm sentimentos, as pessoas também têm. Hoje dizemos que não temos funcionários, mas colaboradores. Não temos fornecedores, mas parceiros de negócios. Não temos mais que entrar e sair da empresa sem dar um sorriso, nosso serviço é nosso segundo lar se assim quisermos e pudermos tornar o ambiente mais agradável e humano. Décadas depois estas respostas ainda tramitam por meus pensamentos, pois formam meu caráter. Elas têm suas verdades e suas mentiras, basta saber qual parte delas aceitar como tal.

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