quarta-feira, 11 de maio de 2011

Diário Paulista I

Mais uma semana em Silent Hill, o cenário é simplesmente o mesmo de São Paulo... opa, acho que troquei as referências, na verdade Silent Hill foi inspirada no clima de São Paulo. Essa cidade triste e cinza onde pessoas sem rosto passam por mim de cabeça baixa, destruindo seus pulmões com o seu cigarro bombando fumaça como uma locomotiva a carvão, acelerando nas calçadas com presa de fugir dos prédios que as cercam, tensas, desconfidas e de poucas ou nenhuma amizade.

São Paulo me deixa triste, não pelas pessoas em si, mas pelas atitudes que elas tomam. Quer fumar? Conheço lugares ótimos e tu nem precisa acender um, basta ficar parado no saguão ou na frente de um prédio de escritórios da Avenida Paulista e pronto. A quantidade de pessoas que sai dos elevadores com o isqueiro numa mão e a caixa personalizada de cigarros na outra, de olhos esbugalhados e pernas trêmulas por aquele "prazer", é difícil até de contar. O que mais impressiona é a expressão facial após a primeira tragada... Se você nunca fumou basta imagine uma pessoa com a bexiga apertada, mas apertada mesmo (não vale para quem tem incontinencia urinária) e quando chega ao banheiro consegue se livrar do líquido todo, na medida certa. A sensação de alívio é indescritível. Quem fuma deve saber disso melhor do que eu e ainda deve dizer que é muito melhor.

Atitudes mostram o que uma pessoa é, mostram do que ela é capaz. Isso se vê a cada momento do dia, é automático, por mais que alguém finja ser bom um simples gesto fará com que a máscara caia. Sentar no banco dos idosos e fingir que dorme, não juntar o papel do chão ou jogar ele pela janela do ônibus, ignorar uma pessoa que caiu no chão após tropeçar, não desejar "saúde" para alguém que espirrou. Quantos atos são necessários para uma pessoa ser considerada boa? E quantos para considerá-la ruim? As pessoas de São Paulo não parecem ser medidas assim, elas simplesmente baixam a cabeça e avançam, me fazendo desistir de olhar para elas e sentir o que são. Talvez o que falte a elas é interagir com outras pessoas, pois nesta vida agitada não tem como fazer isso.
 
Sou um Observador, me alimento dos pensamentos alheios, sinto suas angústias, absorvo suas mágoas, desenvolvo imunidade aos sentimentos e acabo contaminado pela indiferença como as pessoas se tratam. É como estar em um mar de bolinhas vermelhas e verdes, mas as vermelhas são em tão grande número, que acabo por pensar que não há outra cor.

Nenhum comentário: